Arábia Saudita 10-11-2023
Roberto Firmino nunca foi muito fã de entrevistas, mas acabou de lançar um livro sobre seus oito anos em Anfield, intitulado 'Si Señor: My Liverpool Years' (Sim, Senhor: Meus Anos no Liverpool). A obra fala sobre como ele passou de um jogador desajustado e pouco quisto nos últimos dias da passagem de Brendan Rodgers para uma peça-chave na era de sucesso do Liverpool de Jürgen Klopp, conhecida como 'champions of everything' (campeões de tudo), e se tornou um personagem muito popular durante esse período notável de sucesso para os Reds.
No entanto, surge a pergunta se passagem de Firmino na Arábia Saudita será uma história a ser contada. Isso porque, embora provavelmente não seja a o 'conto de fadas' que ele viveu no Liverpool, certamente seria uma leitura envolvente, dada a atual incerteza que envolve sua súbita queda de forma no Al Ahli.
Firmino, inegavelmente, foi uma das contratações de destaque desta última janela do Sauditão, mas também amplamente considerado como uma das mais sensatas. Embora estivesse se aproximando dos 32 anos, este não era um atacante que depende da velocidade para abrir defesas. Ele sempre foi conhecido por sua inteligência.
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Além disso, sempre foi considerado um profissional exemplar, elogiado por sua ética de trabalho. O consenso era que ainda tinha energia suficiente para levar sua nova equipe recém-promovida para o topo da tabela.
No entanto, embora o Al-Ahli esteja indo razoavelmente bem, atualmente ocupando o quarto lugar na classificação, Firmino parece estar desgastado. Os anos implacáveis parecem estar exercendo o preço em um atacante conhecido tanto por seu esforço quanto por sua criatividadeHerói do hat-trickO curioso, no entanto, é que Firmino não poderia ter começado sua vida no Al Ahli de maneira melhor. Firmino conquistou os torcedores do clube ao marcar um hat-trick logo em sua estreia na Saudi Pro League, em uma vitória por 3 a 1 sobre o Al Hazm, no dia 11 de agosto.
Àquele ponto, falar sobre o desafio pelo título não parecia algo tão fantasioso. Afinal, o Al Ahli não havia apenas contratado Firmino; havia também se reforçado com outros dois jogadores da Premier League - Riyad Mahrez e Allan Saint-Maximin.
Mais, o meio-campo também havia sido significativamente fortalecido com as chegadas dos ainda promissores Franck Kessié, contratado por €12,5 milhões (hoje, cerca de R$ 65,5 milhões) junto ao Barcelona, e Gabri Veiga, jovem amuleto do Celta de Vigo, considerado um dos jovens mais brilhantes da Espanha. Tudo isso ainda sem contar as chegadas de Édouard Mendy, para defender o gol, e Roger Ibañez e Merih Demiral, para o miolo de zaga.
Sem entrosamento com Mahrez e Saint-Maximin
No entanto, enquanto alguns dos nomes de destaque do Al Ahli conseguem performar ao nível esperado, com destaque para Mahrez e Kessié, Firmino está em dificuldades. O atacante não marca gols desde o seu hat-trick na primeira rodada, e embora um jejum de gols de 10 jogos não seja surpreendente para um atacante que nunca foi especialmente conhecido como artilheiro no Liverpool, sua falta de energia e empenho é o que incomoda.
No auge de suas habilidades, Firmino nunca ficava parado. Quando não estava pressionando e incomodando os defensores, flutuava pelo campo em para oferecer opção aos companheiros. Nesse aspecto, ele era o colega de time perfeito - um brasileiro tecnicamente brilhante com um talento único para criar espaço e chances de gol. Como Klopp chegou a dizer, não havia sentido em o Liverpool tentar encontrar um substituto para Firmino durante a janela, porque "ninguém pode fazer [esse papel de falso nove] como o Bobby".
A expectativa, portanto, era que Firmino se mostrasse uma arma formidável tanto para Mahrez quanto para Saint-Maximin; que ele tirasse o melhor dos talentosos alas da mesma forma que fez em Anfield, quando jogava entre Sadio Mané e Mohamed Salah. No entanto, Firmino conseguiu apenas duas assistências no Saudita até o momento e vem mostrando dificuldades para liderar o processo criativo da equipe
Torcida frustrada
A falta geral de fluidez e coesão no estilo de jogo do Al Ahli pode ser parcialmente atribuída ao fato de que Matthias Jaissle assumiu o cargo de treinador apenas no final de julho, duas semanas antes do início da temporada.
A ausência de uma pré-temporada adequada significava que levaria tempo para a equipe se acostumar totalmente com o modelo proposto por Jaissle. No entanto, não é como se o treinador não tivesse sido paciente com Firmino. Na verdade, houve pedidos de alguns torcedores para que o atacante fosse deixado de fora muito antes de finalmente ser colocado no banco na partida da última semana com o Al Riyadh.
E agora, o que preocupa realmente Firmino é que o Al Ahli pareceu melhor e mais equilibrado sem ele no time titular.
Não apenas cansado - mas acabado?
Os pedidos para que a equipe venda o ícone de Anfield durante a janela de transferências de janeiro provavelmente não serão atendidos. Até o momento, o Al Ahli não tem a intenção de desistir de Firmino. Não houve reclamações sobre seu comportamento ou comprometimento.
No entanto, está claro que é necessário uma grande evolução se ele quiser seguir na equipe na próxima temporada. Há um temor entre os torcedores de que Firmino não esteja apenas cansado - mas acabado.
Problemas com lesões aumentam
Na última temporada, Firmino marcou 11 gols na Premier League - a primeira vez que ele atingiu dois dígitos desde 2018/19 - e Klopp queria mantê-lo para 2023/24. No entanto, Klopp o via apenas como um jogador de rodízio. Cody Gakpo, lembre-se, foi contratado em janeiro para competir pelo comando do ataque, com Diogo Jota e Darwin Núñez. Firmino pode ser ídolo em Anfield, mas havia caído para a quarta opção na hierarquia. Ainda, apesar de seu amor óbvio pelo Liverpool, não estava disposto a aceitar o papel de reserva, pois ainda acreditava que podia competir no mais alto nível.
No entanto, não há como ignorar o fato de que seu corpo estava começando a ser um problema. O atacante perdeu mais jogos em suas duas últimas temporadas em Anfield do que em suas seis anteriores somadas.
E, como frequentemente se diz em relação ao desgaste, não se trata da idade do jogador, mas sim dos quilômetros percorridos - e Firmino cobriu mais terreno durante seu tempo na Premier League do que a maioria dos atacantes em suas carreiras inteiras. Portanto, é inteiramente possível que o tempo tenha alcançado Firmino um pouco mais rapidamente do que a maioria.
Fé e coragem
Mas seria imprudente, claro, descartá-lo neste momento. Firmino tem muita experiência em surpreender críticos e superar momentos difíceis. Ele levou três meses, por exemplo, para marcar seu primeiro gol pelo Liverpool, e, durante sua penúltima partida sob o comando de Rodgers, chegou a ser escalado como ala.
Ele, portanto, sabe melhor do que a maioria que as coisas podem mudar rapidamente no futebol, e é bem significativo que, nesta semana, ele tenha postado um trecho da Bíblia que lida com a superação de "tribulações" por meio da "fé e coragem".
E fé e coragem são duas coisas que Firmino nunca careceu. No entanto, com base no que vimos até aqui, essa mudança para o Oriente Médio parece mais um triste desfecho do que um final condizente à sua idolatriapara essa maravilhosa história em Anfield.
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