Roma 07-05-2020
O futebol italiano deu início esta semana a um movimento de retorno gradual às atividades, com a permissão pelo governo para os clubes da primeira divisão reabrirem seus centros de treinamento aos jogadores, respeitando as medidas sanitárias e de distanciamento ainda necessárias no país.
Jogadores brasileiros que atuam na Itália querem retorno seguro do futebol no país — Foto: Arte: Infoesporte
Com 213 mil casos e 29 mil mortes pelo Covid-19 registrados pela Organização Mundial de Saúde, a Itália foi o primeiro grande epicentro da doença na Europa e ainda segue como um dos países mais afetados no mundo. Enquanto o governo debate a possível retomada das competições esportivas, o GLOBOESPORTE.COM ouviu seis jogadores brasileiros que atuam na Série A sobre o que pensam da volta aos treinos e suas expectativas para o futuro do campeonato. Outros jogadores procurados não quiseram responder ou alegaram um veto do clube a entrevistas nesse momento.
Quatro dos seis brasileiros ouvidos disseram que já se sentem relativamente seguros para treinar no CT, devido às rigorosas medidas sanitárias aplicadas. Outros dois, o lateral-esquerdo Dalbert e o zagueiro Igor Julio, ambos da Fiorentina, permanecem treinando em suas casas, já que o clube só reabrirá o centro de treinamentos no dia 18.
- É claro que nós jogadores temos o sonho de voltar a jogar e treinar, mas eu creio que a vida de um ser humano vale mais do que voltar a jogar nesse momento tão difícil - afirmou Dalbert.
- O mais importante é todos estarmos em segurança, tanto a população quanto os atletas. Sobre a questão da volta do campeonato, não temos certeza se vai acontecer. Não vale a pena forçar a volta de um campeonato em meio a uma pandemia. Temos que voltar com bastante cautela e nos proteger bem. Independentemente dos exames, vamos estar em viagens, hotéis e em contato com outras pessoas. Agora, é importante termos respeito pelas milhares de pessoas que perderam suas vidas e pelos entes queridos delas - completou.
Dalbert ressalta que os jogadores estão mantendo a forma em casa, onde estão "em segurança".
- Em relação aos treinos, é claro que treinar em um campo de futebol, com maior espaço e ambiente propicio, é importante e ajuda bastante o atleta. Mas nós, jogadores, também estamos treinando em casa. Não estamos de férias. É desgastante fisicamente e mentalmente. É difícil, mas pelo menos estamos em segurança. Nesse momento acho um pouco precipitada essa volta, mas estamos à disposição para fazer o nosso trabalho.
- Como atleta, eu sempre quero jogar e fazer o que eu amo. Mas, pela situação em que a gente se encontra, pela quantidade de casos que tivemos, quantidade de mortes, na minha opinião essa temporada não deveria voltar. Se quando for decretado que tiver de voltar, a gente já puder ter mais segurança, uma queda grande de casos, alguma cura, por exemplo, aí tudo bem - afirmou.
- Se for para voltar nesse momento, eu optaria por não voltar. Não é porque somos jogadores que estamos imunes ao vírus - opinou Igor Julio
Falta de vacina e cura traz insegurança
Um dos jogadores ouvidos pelo GloboEsporte.com, que pediu para não ser identificado, disse que ainda não se sente totalmente seguro, "pelo fato de ainda estarmos tendo casos e não existir uma vacina que traga prevenção ou mesmo a cura para aqueles que estão com coronavírus". Apesar da preocupação, ele não vê problema na volta aos treinos, desde que acompanhada das medidas necessárias de prevenção.
O goleiro Gabriel, do Lecce, aprovou a volta aos treinos no clube, sem esconder o estranhamento inicial com o ambiente controlado e o grupo reduzido.
- A gente ficou uns 50 dias aqui de quarentena, e a sensação de voltar foi um pouco estranha, com todas aquelas medidas de distanciamento. Mas é melhor do que estar em casa. Por mais que tenha sido só trabalho físico, parece que você já está dando um passo, de poder sair de casa e ir lá correr e tudo mais - disse ele, dando mais detalhes sobre a atividade.
- A gente voltou a treinar usando o próprio material, sem usar os vestiários, o treinador a gente viu à distância, o preparador de goleiros a gente viu à distância, ele com luvas e com máscara. A cada 45 minutos, cinco jogadores (treinam). Fazemos somente um trabalho de corrida, mantendo sempre a distância, nada de contato com bola ou com os outros atletas. Eu corri com o outro goleiro do time, em volta do campo, e a situação está assim, vamos ver como vai ser o desenrolar.
O zagueiro Ibañez, da Roma, voltou ao clube na terça para a primeira sessão de treinos. O elenco foi dividido em três grupos, e nesta quinta todos irão pela primeira vez ao CT no mesmo dia, mas em turnos diferentes.
- Na terça, eu fiquei no clube por volta de uma hora e 20 minutos. Fizemos exames médicos de rotina, teste de força no ginásio e treino no campo, só corrida e alguma condução de bola e passes. Só eu de jogador, sempre acompanhado por um preparador. Aqui na Roma eles tomaram todas as providências que precisavam ser tomadas, um quarto para cada um, com as coisas separadas, procuraram fazer tudo.
- Quando o jogador chega no clube tem o controle de temperatura do corpo, se alguém estiver com a temperatura mais alta, vai ser isolado. Aqui na Roma eu me sinto seguro de voltar a treinar - afirmou o zagueiro.
Ibañez compartilha com os demais brasileiros a opinião sobre a possível volta do Italiano:
- O mais certo seria voltar o campeonato somente quando tiver total segurança sobre a doença. É difícil fazer uma previsão, é complicado. O certo é que voltaremos com portões fechados, e futebol sem torcida não é a mesma coisa, é bom ter o apoio da torcida, e até sentir a pressão da torcida adversária. Infelizmente, vai ter que ser assim.
- Acredito que, se os clubes podem oferecer uma estrutura de treinamento adequada que não gere riscos para a saúde de ninguém, o retorno é válido sim. De qualquer forma temos que ter em mente que é uma doença muito séria e perigosa, por isso todo o cuidado é pouco. Aqui na Itália a situação foi bem pior do que em outros países europeus. Por isso acho muito difícil termos o retorno das competições - observou Rodrigo Becão.
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