Caen 18-02-2022
Em vez de grama, areia. A diversão em São Luís do Maranhão era jogar bola na praia. Ou no campinho atrás da casa da avó. Foi assim que Ary Borges começou sua relação de amor com o futebol e iniciou seu caminho na modalidade. Caminho esse que trouxe a atleta até à seleção brasileira e a realizar o sonho de vestir a amarelinha.
- Eu comecei jogando bola na praia com os meninos. Mas nunca levei muito a sério, porque na minha cidade não era comum ver mulher jogando futebol. Sempre digo que o esporte entrou na minha vida por acaso. Fui criada pela minha avó, porque meus pais saíram cedo de casa quando eu tinha dois anos pra tentar uma vida melhor. E atrás da casa da minha avó tinha um campo de futebol. Meu tio que me levava pra jogar, ele que me colocou nesse mundo - disse Ary.
Foi o reencontro com os pais, aos 10 anos de idade, e a mudança para São Paulo com a família que colocaram de vez o futebol na vida da meio campo da seleção.
- Até os 10 anos eu nunca tinha visto meus pais. Nos falávamos por telefone, eles mandavam fotos, mas nunca tínhamos nos visto pessoalmente. Me mudei pra São Paulo e meu tio avisou ao meu pai que eu jogava bem futebol, disse pra ele me ajudar desenvolver. Foi quando meu pai começou a correr junto comigo atrás desse sonho. Comecei na base do Centro Olímpico, e depois as coisas começaram a acontecer.
Ary Borges passou dois anos no Sport, depois foi defender o São Paulo, até parar no Palmeiras, clube onde joga desde 2020. Hoje, ela é meio campo da seleção brasileira e entrou como titular no empate do Brasil por 1 a 1 contra a Holanda, jogo de estreia do Torneio Internacional da França. O desempenho da atleta rendeu elogio especial da treinadora Pia Sundhage.
- Ela se tornou uma jogadora muito confiável. Isso é louco porque, na primeira vez que a vimos na seleção, ela driblava, mas não sabia muito pra onde ir. Na segunda vez, ela evoluiu um pouco mais, e se você analisar a técnica dela, a velocidade, resistência, eu acho que ela ajudou bastante o time nessa partida.
Ary Borges treina sob os olhares atentos de Pia — Foto: Thais Magalhães/CBF
Conquistar a confiança de Pia não é missão fácil, mas para Ary a passagem dela na seleção teve uma virada importante no ano passado, quando a seleção foi até a Austrália para jogar dois amistosos contra o time da casa.
- Eu acabei chegando um dia antes do resto da delegação na Austrália, e eu e Pia tivemos uma conversa de uns 10, 15 minutos, na qual ela me mostrou vídeos de alguns jogos e falou que eu precisava muito dessa constância em relação à marcação. Me cobrou algumas coisas pontuais e aquilo mexeu um pouco comigo. Percebi que se eu quisesse estar aqui eu precisava realmente melhorar e fazer o que ela queria que eu fizesse. Acho que foi um momento chave, e talvez isso tenha mudado algo na minha cabeça - afirma Ary.
Neste sábado o Brasil encara a França, adversário que a seleção nunca conseguiu vencer. Na última Copa do Mundo, as comandadas de Pia foram eliminadas pelas francesas nas oitavas de final. Uma das missões nesse jogo é tentar parar a gigante Wendie Renard, zagueira com 1,87, perigosíssima nas bolas aéreas. Na estreia do Torneio da França, o time da casa venceu a Finlândia por 5 a 0, com quatro gols de jogadas áreas, dois marcados por Renard.
- Ela é uma grande jogadora, mas a gente precisa acreditar na nossa equipe. Já que ela é muito alta, pra marcar a gente (jogadoras mais baixas e rápidas) fica mais difícil. Então, acho que precisamos tirar vantagem disso no ataque - diz Ary.
Ary posa com o troféu e a medalha após a conquista do Torneio internacional feminino disputado em Manaus no ano passado — Foto: Thais Magalhães/CBF
Já em relação ao futuro, a meio campo prefere ter cautela e viver o presente. Mesmo faltando um pouco mais de um ano para a Copa do mundo da Austrália e da Nova Zelândia, Ary Borges quer focar nos próximos jogos e se dedicar ao máximo para garantir uma vaga na equipe de Pia.
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