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Quinta-feira, 17 de Abril de 2025
Treinador brasileiro supera perda da mãe e mau começo para buscar sucesso no Kashima !

Japonês

Treinador brasileiro supera perda da mãe e mau começo para buscar sucesso no Kashima !

Treinador brasileiro supera perda da mãe e mau começo para buscar sucesso no Kashima !

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    Tokio 10-10-2020 

A pandemia da Covid-19 espalhou pelo mundo histórias de dramas, incertezas e impossibilidades causadas pela necessidade da distância. E Antônio Carlos Zago viveu estas indesejadas emoções em meio ao começo de um projeto em que apostou no começo do ano, após subir com o RB Bragantino para a elite do futebol brasileiro em 2019. Ao fazer a escolha de rumar ao Kashima Antlers, do Japão, o técnico dificilmente imaginava tudo que estaria por vir nos âmbitos pessoal e profissional.

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O 2020 atípico não trouxe para Zago apenas tempos diferentes por uma doença de difícil controle. Em abril, quando boa parte do mundo vivia o auge da pandemia do coronavírus, o técnico perdeu sua mãe, Odete, aos 76 anos - e não pôde viajar ao Brasil para sepultá-la. Lamentou e engoliu a seco a tristeza, que misturou-se à agonia por não poder desenvolver seu trabalho do jeito que gostaria.

- Minha mãe faleceu em abril e eu não pude voltar, até porque não tinha voo. Se eu saísse do Japão seria muito difícil voltar, pois as pessoas que têm o visto de trabalho só puderam no final de agosto. Eu ficaria longe do trabalho, não tinha jeito - lembra Zago.

 
 

Naquele momento, o técnico já havia iniciado seu trabalho à frente do Kashima, mas não da maneira que esperava. Sua trajetória começou com uma eliminação na Liga dos Campeões da Ásia, diante do Melbourne Victory; uma derrota na Copa da Liga, para o Nagoya Grampus; e um revés contra o Sanfrecce Hiroshima na estreia no Campeonato Japonês. Então, a bola parou de rolar no Japão em fevereiro, por conta da pandemia, e só voltou em julho. Neste tempo, Zago precisou se apegar às tarefas ainda possíveis para ocupar a cabeça.

- A gente ficou parado por um mês, voltamos a treinar em grupos de oito, depois grupo de 12, até que no terceiro mês voltamos ao normal. Aí que a gente começou a esquecer um pouco mais tudo que passou até hoje. Mas morte de pai e mãe nunca se esquece, né. Mas a gente tem o trabalho, os filhos que temos que pensar, e vai trabalhando em cima disso, passando por cima das dificuldades.

Antônio Carlos é comandante do Kashima Antlers desde o começo do ano — Foto: Getty Images

E o lema usado por Zago fora dos gramados também acabou aplicado no Kashima dentro das quatro linhas, com uma boa dose de persistência. Na retomada do futebol, as dificuldades teimaram em aparecer: foram mais três derrotas consecutivas no Campeonato Japonês antes do prazer de poder celebrar uma vitória no clube, no dia 18 de julho, contra o Yokohama F. Marinos. Depois, a campanha seguiu irregular: nos primeiros 17 jogos de Zago foram cinco vitórias, três empates e nove derrotas, com um aproveitamento de 35,3%. Então, o time enfim começou a "passar por cima" dos problemas.

 

No dia 26 de agosto, com um triunfo sobre o FC Tokyo, começou uma sequência marcante para a equipe japonesa: sete vitórias consecutivas, um feito que não se repetia para o Kashima na J-League desde 2007, quando o time conquistou o título nacional. Os resultados fizeram o time sair da parte de baixo da tabela para passar a aspirar uma vaga na próxima Liga dos Campeões e até a segunda colocação na J-League, que dá vaga na tradicional Copa do Imperador.

Hoje, o Kashima é o oitavo colocado, com 33 pontos, nove atrás da zona de classificação, com 13 jogos a realizar. Zago indica que seria importante ficar entre os três primeiros para chancelar o bom trabalho, mas entende que trata-se de um ano de transição, com a equipe em processo de reformulação. E prega uma palavra que os japoneses conhecem bem em seu dia a dia: paciência.

- Você vai aprendendo com o japonês a ter paciência, a ser frio como eles são. Isso que ajudou no começo do ano e no returno depois. A gente ter tranquilidade. Todos sabiam que o trabalho era bem feito, e as coisas foram se encaixando. Temos um time jovem, um dos mais jovens da J-League. É um ano de renovação, de reformulação - argumenta.

 

O trabalho com um chefe-ídolo e saída do Bragantino

 

E, além da paciência japonesa, Zago contou com um fator importante para manter a tranquilidade em meio aos resultados do começo da temporada: a confiança de Zico, diretor de futebol da equipe japonesa. Maior ídolo da história do clube e do futebol japonês, o ex-jogador do Flamengo animou Zago a rumar ao Japão e assumir justamente o time mais vitorioso da história do campeonato nacional.

- Antes e depois da pausas, ele sempre esteve junto. Às vezes é difícil trabalhar com o Zico porque é meu ídolo de infância, a gente fica até meio sem jeito (risos). Ele ajuda muito no dia a dia com sua experiência. Ele está aqui em todos os treinamentos, viaja junto com a equipe. É um diretor na prática, cumpre todas as funções de diretor de futebol - elogia.

Para o técnico, não foi simples, no começo de sua trajetória no Kashima, lidar no dia a dia de trabalho, com um ídolo de sua infância - uma vez que não teve convívio profissional com o Galinho antes de ir ao Japão.

 

- No começo era um pouco mais difícil (risos). Antes, quando eu jogava, não tivemos esse convívio. Nas poucas vezes que nos encontramos, prevaleceu o lado do fã, é o que falava com ele. Agora a gente tem que trocar ideias mais com relação a elenco, ao ano que vem, a gente tem uma garotada boa aqui.
 

Zago hoje dá seguimento a uma tradição do Kashima Antlers de contar com treinadores brasileiros, depois de apostas consecutivas em japoneses, entre 2015 e 2020. Antes dele, vieram nomes como Toninho Cerezo, Jorginho, Oswaldo de Oliveira, Paulo Autuori e o próprio Zico. O paulista de Presidente Prudente afirma que tinha o desejo antigo de retornar ao Japão, desde os tempos de jogador, após atuar no país na década de 90, no Kashiwa Reysol.

Para concretizar o projeto, Zago optou por deixar o RB Bragantino depois de um ano de sucesso. O treinador foi quem comandou a equipe paulista na campanha da conquista do título da Série B em 2019, garantindo uma vaga na elite do futebol brasileiro depois de 21 anos. Pesou a favor do Kashima o sonho do técnico de trabalhar fora do Brasil.

- Eu já sabia de todas as dificuldades que eu ia encontrar aqui, talvez fosse mais fácil permanecer. Tinha praticamente o elenco na mão, conhecia todos os jogadores. Aqui, tive que começar tudo do zero, em um processo de renovação. É um trabalho que me agrada, acabei conversando muito com o Zico, e isso fez com que eu aceitasse esse desafio de fazer um bom trabalho, abrir as portas para outros treinadores no futebol japonês. Era um sonho que eu tinha, vim em busca desse sonho - explica.

 

Questionado sobre o processo de saída da equipe paulista - que reclamou não ter sido comunicada, quando Zago foi anunciado pelo Kashima -, o brasileiro minimizou o caso. E garantiu estar na torcida para que seu ex-clube consiga ficar na primeira divisão em 2021.

- A partir do momento que você paga a multa, não há problema. Eu paguei, saio e vou para onde eu bem entendo. Como se o Bragantino me mandasse embora pagando a multa, não haveria problema, faz parte da profissão. Falaram algumas coisas que não eram verdadeiras. O importante é meu trabalho aqui e que o Bragantino tente sair dessa situação. Estou muito na torcida, pois o objetivo era permanecer na Série A esse ano - encerrou.

FONTE/CRÉDITOS: Redação da Foot Brazilian World
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